segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Visita a Israel







Israel, fundado em meados do século XX, é um dos Estados mais jovens, mas ao mesmo tempo é como se tivéssemos assistido ao fim de um longo interregno desde a Antiguidade, e que toda a riqueza da história e da cultura hebraica voltassem a ter uma pátria própria.

Torna-se uma viagem que nos marca, em termos de religião e história, ou não estivéssemos no berço da nossa civilização judaico-cristã e mesmo do islamismo e nos ajuda a perceber a realidade político e social dos nossos dias no que respeita ao convívio entre os povos locais.

A fundação deste pequeno Estado, contra todos os países árabes envolventes, sobretudo o Egipto, imensamente maiores, e contra a Inglaterra, com o seu Mandato colonial, que chegou a reter em campos de concentração milhares de judeus sobreviventes do Holocausto e que queriam emigrar para Israel, teve as suas origens, não só em termos de escolha histórica mas de resposta a séculos de perseguições e genocídio do povo judeu, em toda a Europa, ressalvando-se países como a Holanda, que realmente se destaca em termos de inteligência política e social neste campo, a Bulgária, a leste, onde o monarca se recusou a obedecer às ordens de Hitler de deportação daquele povo, e um ou outro país com um anti -semitismo mais mitigado.

Um historiador disse que a história deste povo na Europa, desde a idade média, se passou em 3 fases sucessivas: tens de te converter, tens que te ir embora, não podes existir.

                  Antes da invasão e da ocupação da Polónia pelos nazis, muita da população polaca com a conivência das autoridades quando não por iniciativa destas próprias, moviam perseguições aos judeus, a maioria residente em aldeias, com destruição ou ocupação de casas e apropriação de bens, e onde não faltavam sevícias, com frequência mortais, àquele povo, de forma cruel e de má-fé.

Durante a 2.ª Guerra, quando os Judeus de toda a Europa eram levados de comboio, em vagões de gado em condições dantescas inimagináveis, para os campos de concentração, muitos polacos, segundo um sobrevivente, cerca de 90%, ao longo da via-férrea, respondiam com ditos jocosos e gargalhadas, bem- humorados por finalmente alguém os livrar dos judeus, aos seus gritos lancinantes.

                  No fim da 2.ª Grande Guerra, numa localidade polaca, uma criança de cerca de 8 anos, teria dito aos pais, seguindo uma tradição de denúncias e queixas que já vinha da época medieval, que um grupo de Judeus, o teriam raptado. Tratava-se de um grupo de recém-libertados de um campo de concentração e que se encontravam refugiados numa casa comum, porque as suas próprias casas já tinham sido entretanto ocupadas e por quem não as iria devolver aos legítimos donos.

                  Como resultado da queixa foram chacinados pela população local, com o beneplácito da polícia e do exército.

                  Na Ucrânia, no fim da 1.ª Guerra Mundial, foram mortos 100.000 judeus e na Lituânia, após a ocupação pelos nazis, estes só tiveram que assistir, sem gastar munições ou recursos humanos, à matança dos judeus (80%) pela população local estando em voga o espancamento, até à morte, com barras de ferro.
                  
Em todos os países a leste da Alemanha, com grandes comunidades judaicas, sendo de longe as maiores as da Polónia e da Rússia, o panorama antes da invasão nazi (e mesmo depois) pautava-se, no geral por um anti-semitismo generalizado  e ciclíco, quer se tratassem de judeus pobres, a maioria, quer se tratassem de burgueses, quer fossem ortodoxos, quer fossem laicos e assimilados, e até se pode testemunhar, de forma abertamente anti cosmopolita e xenófoba, a existência de um anti-semitismo sem semitas.

Desde os violentos, maciços e destrutivos progroms russos, aos campos de concentração do III Reich e seus satélites, o destino da maioria dos judeus seria o seu extermínio.

Mesmo no último ano da guerra, quando esta já estava definitivamente perdida para as potências do eixo, na Hungria, gerou-se uma sanha de perseguição aos judeus sobreviventes, para abater o maior número possível, antes que Exército Vermelho entrasse no país.



Entretanto continuam a haver mitos, acusações fantasiosas, lendas maldosas e mentiras, factos estratégica e convenientemente desconhecidos ou deturpados, ou documentos e histórias forjadas, como o dos fantasmagóricos Protocolos dos Sábios de Sião, que vão sendo achas na grande fogueira de um permanente anti -semitismo, mas aos quais se deverão contrapor análises objectivas, racionais, realistas e de boa-fé.

Um bom exemplo dos argumentos fantasiosos e delirantes anti-semitas é que como dos Judeus nada poderia vir de criativo, os profetas bíblicos, o Rei David e o próprio Jesus Cristo longe de serem judeus só poderiam ser da raça germânica. Ideias como esta de um inglês, Houston Stewart  Chamberlain, genro de Richard Wagner e que viria a ser amigo e, salvo erro, mentor de Hitler, foram aclamadas na Alemanha.

Mas, há outos factores na génese do anti-semitismo como, e chamemos às coisas pelos nomes, a inveja, a cobiça, a ganância de quem via com bons olhos, na deportação em massa do Judeus, uma maneira de ficar com as suas casas e muitos dos seus haveres. Houve povoados ou bairros inteiros que mudaram, desta forma, de donos. E nunca mais foram devolvidos aos seus legítimos proprietários, mesmo quando os poucos sobreviventes dos campos queriam regressar às suas terras e aos seus bens. Era-lhes fechada a porta na cara com toda a violência, pelos ursupadores.

Ora desde há mais de 100 anos que começou a haver um retorno dos judeus aos territórios que constituíam a sua antiga nação. Assim começaram a instaurar-se, com a chegada dos primeiros colonos e depois com a implantação dos kibutzim, comunidades já mais evoluídas, os alicerces do que viria a ser a pátria renascida dos povos de Judá e de Israel e onde passaram a procurar refúgio, e uma nova vida, muitos, senão a maioria, dos hebreus sobreviventes à barbárie europeia.
 A importância da Civilização Judaica no Mundo é imensa.

A crença religiosa, a filosofia de vida e as regras sociais preconizadas, de um pequeno povo nómada, essencialmente de pastores, numa região em que o deserto domina, viriam a mudar por completo a poderosa sociedade romana que os tinha conquistado e posto fim à sua nação, e a moldar, nos séculos vindouros, toda a sociedade europeia. E, mais tarde, o Império Árabe, saído do Islamismo com origem, por seu turno, no Antigo Testamento fruto da nação Judaica, viria a tornar-se, juntamente com a civilização greco-romana, num dos pilares da nossa sociedade.

                  Na viagem à pátria terrena de Jesus Cristo, o Judeu mais famoso, mais que Einstein ou Steven Spielberg, outros judeus famosos, compreendemos melhor a história antiga e actual deste povo, que tem de conviver com a ultra ortodoxia suicidária de muitos dos seus e a jihad islâmica, sendo sobretudo esta, obviamente, a principal ameaça.

                  Mas voltando à nossa visita a Israel.

                  O nome Palestina é de origem latina, não árabe nem judaica, é criação de Roma para acabar com o estado de Judá (Judeia), após a revolta dos judeus contra a ocupação romana, e para os castigar e expropriar.

Nos nossos dias, na fortaleza mandada construir por Herodes, em Massada, junto ao Mar Morto, podemos observar os vestígios de uma nação inicialmente tolerada pelos ocupantes romanos, mas que, ao primeiro sinal de revolta dos judeus, acabaria por ser aniquilada.

Podemos ainda encontrar na importante e central história deste povo, Jericó como o primeiro castelo do mundo que no essencial nada difere dos castelos construídos posteriormente, e o complexo urbano de Jerusalém com o grandioso templo também mandado erigir pelo rei Herodes, que no seu reinado conseguiu viver em paz com os romanos.

                  Após muitos séculos, só se voltaria a falar na Palestina, já no século XX e muito convenientemente, por aqueles que se opunham ao retorno dos judeus àquele território.

                  Os habitantes da região chamada Palestina eram párias, estagnados desde há séculos no obscurantismo, na ignorância e nos meios mais rudimentares de sobrevivência, perseguidos pelos países vizinhos que não os aceitavam (na Síria foram mortos aos milhares), até que começaram a chegar as primeiras vagas de judeus, tendo finalmente sido constituído o estado de Israel, em 1948. A partir deste período todos se começaram a preocupar com os ditos palestinos.

            Para ilustrar esta má- fé dos países árabes vizinhos Israel teria em determinada altura oferecido a faixa de Gaza ao Egipto, mas tal era a miséria, e, provavelmente, com a promessa de um acréscimo tão grande de problemas, que os egípcios teriam recusado.

De qualquer modo assumindo então a administração desse território, os israelitas criaram para os habitantes de Gaza hospitais e escolas (donde são lançados mísseis para os povoamentos judaicos), postos de trabalho, saneamento.

 Se o Egipto não tomou conta das populações de Gaza, em termos de desenvolvimento económico e social, enviou-lhes Yasser Arafat, que era egípcio aliás, como egípcios eram os pilotos suicidas do 11 de Setembro, para as sublevar contra os que realmente lhes estavam a criar e a dar infra-estruturas na saúde, no ensino e na economia.

                  Aliás o ressentimento árabe em relação aos judeus já vem de uma época anterior à criação do Estado de Israel, desde que, em finais do século XIX, os primeiros colonos começaram a aproveitar os terrenos comprados na Palestina, com uma eficiência e produtividade, em termos agrícolas, estranhas às populações árabes vizinhas.

                  Israel constitui cerca de 0,03% de todo o território do próximo oriente, sendo a maior parte deserto. Contudo os trabalhadores árabes, locais e de outros países, fazem bicha para ir trabalhar em Israel, nos diferentes sectores da indústria, turismo, serviços e comércio, que os israelitas criaram. Não vão para a Síria, para o Egipto, nem para a Jordânia ou para a Turquia, países com um território imensamente superior. Mesmo sujeitos a viver em urbanizações, separados por muros e arame farpado da tentação terrorista-suicidária.

Trata-se, para o turista, de um país seguro civilizado, organizado e acolhedor, onde para além da Cultura e História oferece uma gastronomia verdadeiramente mediterrânica e muito variada, e que nos deixa uma marca indelével de simpatia por aquele povo que persiste em afirmar a cultura da democracia, do trabalho e do progresso contra todo obscurantismo, europeu e, mais recentemente, árabe, que sempre o perseguiu.

Bibliografia
Martin  Gilbert, Israel, 1998, edições 70 Abril de 2009.
Trond Berg Eriksen, Hakon Haket, Einhart Lorenz, História do Anti-Semitismo, 2009, Edições 70  2010
Mucznic, Esther, Portugueses no Holocausto, Esfera dos Livros, 2012.
Wilson A.N., A Filha de Hitler, Bertrand Editora, 2008.


Filmografia
Lanzmann, Claude, Shoa 1985 Divisa 2011











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