sábado, 28 de janeiro de 2012

Tríptico Nacional : dois ministros e um picheleiro


Tríptico Nacional


“Oh mundo atroz, com minha besta abati o albatroz”
(Pato Donald) 




No Porto, em amena cavaqueira, em tom coloquial, enquanto ia desempenhando as suas tarefas, se bem que com interrupções e pausas para a conversa bem mais longas que o tempo dispendido nessas tarefas, o senhor picheleiro lá ia discorrendo sobre o seu passatempo, a pesca e, por acréscimo, sobre o pescado, sobre o dia-a-dia, sobre a emigração, sobre a corrupção, sobre a situação no país. A páginas tantas lamenta-se por haver tanto prejuízo na gestão dos hospitais, pelos grandes desperdícios e pelo material que desaparece.


-Você está a ver esta caixa de luvas, hospitalar, que eu trago para o trabalho, pois não gosto de trabalhar sem luvas, é a minha mulher que é empregada, no hospital tal, que mas traz. Nos primeiros anos, quando começou a trabalhar, ainda tinha escrúpulos ou nem pensava nisso, mas como via que todas as colegas levavam para casa luvas e outas utilidades (e decerto algumas inutilidades só pelo prazer de as levar) também passou a fazê-lo. E ainda bem para mim.


E como corolário do conjunto das suas análises e constatações:


-É o sistema, sabe…


A outro nível, pois estamos já a falar no senhor primeiro-ministro Passos Coelho, mas contribuindo também para este panorama, bem na tradição milenar contida nas palavras avisadas de um governador romano, do que era na altura a Lusitânia, que caracterizava os lusos de então, e pelos vistos de sempre, como gentes que não se governam nem se deixam governar, pois o nosso primeiro ministro propõe e preconiza o recurso à emigração para os jovens professores desempregados já que a sua política vai levar a um aumento do desemprego e ao empobrecimento do país.


E para completar este meu tríptico vem outro ministro o senhor ministro da economia, Álvaro de seu nome, pedir ao pastel de Belém para salvar o país, para seguir a estratégia expansionista do Mac Donald’s e se internacionalizar, chamando ainda, como exemplo, a atenção para o sucesso nacional do frango do churrasco trazido de África. Assim o pastel de Belém inspirado na popularidade nacional do frango de churrasco africano pode tornar-se o nosso Mac Donald’s das grandes metrópoles do mundo, contribuindo para a salvação da economia portuguesa, que bem precisa.


Não percebo porque é que ao terem ouvido falar desta sugestão ministerial as pessoas com quem a comentei pensavam tratar-se de uma anedota inventada. Até teve direito à tribuna da televisão.


E, na prática, cá vamos vivendo com as nossas tradições populares de cidadania e espírito cívico, tão bem conhecidas, governados por “sociais-democratas”, inscritos no clube dos partidos liberais, e por socialistas, da 3.ª via, inscritos no clube das sociais- democracias,
no país com mais desigualdades da Europa, Bruxelas dixit relativamente à distribuição dos sacrifícios impostos.

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