Certo dia encontrei num disco de música thecno ou house (ou congénere) o título sugestivo de “nós trazemos o ruído”, we bring the noise no original.
O termo noise, comumente, significa, em inglês, qualquer som indesejável, significado que ganha todo o sentido nas casas onde entra este tipo de disco pelas mãos de um adolescente.
Para assegurar o direito e a liberdade de que quem quer ter o direito de opção ou simplesmente não se dá bem com aquele tipo de sonoridades, seja house, disco ou outra, com a agressividade de uma discoteca (onde aquele ruído é multiplicado mil vezes), ou mesmo esporadicamente quando trazem a discoteca para o exterior, há legislação nacional nesse sentido, com restrições bem -vindas pelas comunidades.
Remetidos e confinados ao espaço hermeticamente fechado das discotecas, pelas leis que tentam garantir o direito ao repouso dos cidadãos, estes dj’s e seus apaniguados uma vez por outra, quando tal se propícia, “vingam-se” trazendo a aparelhagem para o meio da rua, com a qual levam a cada cama a cada travesseiro, dos que dormem ou se preparam para o fazer, o pum pum pum, bem martelado, multiplicando todos os décibeis que conseguem arrancar do sistema.

Assim, a partir das primeiras horas da madrugada, vá, toda a gente acordada.
A discoteca pum pum pum veio para a rua, trazer aos lares que repousavam ruído a alto som, repetitivo e persistente até ao sol nascer. Se não gostam de ir às discotecas então as discotecas vão até vós, sem terem de sair do leito.
Certamente se a Sr.ª Primeira Ministra da Alemanha, Angela Merckel, tivesse o infortúnio de pernoitar em Lamego na noite e madrugada de 22 de Maio, encontraria alguma explicação para o facto de Portugal estar a ser um mau parceiro na comunidade do Euro.
E se por cá pernoitassem também, o francês Nicolas Sarkozy, ou o americano Barack Obama, ambos fugiriam, para os seus países, em que tal atropelo à cidadania seria impensável.
Em Portugal onde já há o receio de civismo poder ser confundido com servilismo, onde as pessoas parecem querer ignorar que quando não há civismo acabamos por ser muito mais prejudicados que beneficiados, autorizar aos jovens estudantes uma “festa” deste teor é uma péssima lição.

Gente que após um dia de trabalho precisa de um sono reparador e merecido, que tenta na privacidade do seu lar fugir ao stress. Doentes cardíacos e outra gente doente e acamada. Pessoas que precisam de silêncio e repouso para tratar das suas cefaleias, náuseas ou mesmo depressões.
Azarito, tudo acordado! Sem poupar crianças nem idosos. Ou então tomem Valium®. Que se preparem para sentir quase ininterruptamente, o resultado sonoro das geniais misturas dos dj’s mas donde sobresai um martelar repetitivo, dentro das vossas quatro paredes, nas vossas travesseiras, até ao raiar do sol.
Há estudos que revelam que em Portugal dormimos poucas horas, relativamente a outros países europeus e essa falta de horas de sono interfere com o rendimento na escola e no trabalho para além de aspectos diversos ligados à saúde física e mental.
E há palestras, mesas redondas, artigos de jornal, programas de televisão, reportagens, documentários, especialistas a falar na televisão, sobre este tema.
A resposta dos responsáveis, e com responsabilidades acrescidas visto que se trata de uma festa para jovens estudantes em formação, está à vista.
Se nas mil e uma licenciaturas que proliferam por todo este Portugal profundo não parece haver, na organização da queima das fitas, imaginação para mais do que trazerem discotecas para a rua, ou concertos que vivem mais da potência das colunas de som do que da qualidade dos espectáculos e dos festejos no geral, caberia aos responsáveis impor horários, e/ou locais de forma a ser salvaguardado o bem estar dos lares.
Não sei se o Sr. Presidente da Câmara é assíduo frequentador das discotecas pum pum pum. ou se tem residência perto do epicentro sonoro destes festejos abala tímpanos. Se tem não pode negar o que aqui se escreveu.
Admito que por uma questão de falta de formação (ou informação) e por ingenuidade, pais e familiares mais velhos e muita da população em geral, e os próprios protagonistas, encarem este destempero acústico com resignação e conformismo, com medo de parecerem desactualizados ou de politicamente incorrectos. Destempero acústico em que quantos mais décibeis debitarem as colunas de som, mais actualizado e avançado é o espectáculo, porque agora é assim, é moderno, é isto que se deve usar “lá fora”, os miúdos, que até estão em cursos superiores, lá sabem.
De qualquer forma penso que a generalidade dos habitantes que residem nas imediações da queima das fitas prefere ter a liberdade de frequentar ou não as discotecas, a ter imposto, janelas dentro, e nas horas nocturnas de repouso, o martelar sem fim debitado por woffers potentes, proclamando: we bring the noise!